A vida religiosa mística de Santa Teresa D’Ávila

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Quando se propõe a refletir sobre experiências religiosas místicas, torna-se pertinente mencionar experiências que marcaram época no passado e continuam presentes ainda hoje na vida de algumas pessoas que foram agraciadas com tais dons. Nesse aspecto, importa analisar um pouco da história de Santa Teresa d’Ávila.

“Teresa de Cepeda e Ahumada nasceu dia 28 de março de 1515 na cidade de Ávila (Espanha), cercada por monumentos sagrados, simbolizava a vida religiosa. ” (ALLEMAN, 1989, p.16).

Em relação à família de Teresa, seu pai, Dom Alonso Sanchez de Cepeda era um nobre que impunha uma educação tradicional para seus filhos, o que fez com que Teresa fosse educada de maneira diferenciada das mulheres da época. A mãe Beatriz, era virtuosa, mas, devido à saúde frágil passava a maior parte do tempo acamada, entretendo-se com livros de histórias heroicas. Apesar disso, a mãe de Teresa sofreu muito e morreu aos 33 anos. “Nesse contexto, em busca de consolo, Teresa recorre a Maria Mãe de Jesus para que a protegesse daquele dia em diante. ” (ALLEMAN, 1989, p.17).

Teresa transformara o quintal de sua casa em um “convento”, onde praticava exercício espiritual de silêncio, jejum e oração. Isto, portanto, já evidenciava a vocação religiosa de Teresa desde sua infância. Teresa teve uma adolescência normal, contudo, pelo fato de nessa ocasião conviver apenas com o pai, pois sua mãe já havia morrido, ela foi confiada às freiras agostinianas de Ávila, sob a alegação de que não ficaria bem uma jovem sem mãe ficar sozinha em casa. A partir de então, Teresa passa a ser vigiada, exposta somente a práticas de piedade com as demais freiras. (ALLEMAN, 1989, p.18).

Devido aos problemas de saúde que surgiram, Teresa tornou-se fragilizada e obrigou-se a deixar o convento e ir para casa de sua irmã.  No caminho, ela passou pela casa de seu tio Pedro Cepela, que lhe presenteou com um livro de São Jerônimo, o qual apresentava uma forma de oração espiritual silenciosa e isso, portanto, ajudou Teresa a se livrar da indecisão e optar pela vida religiosa (ALLEMAN, 1989, p.19).

Durante a enfermidade, Teresa entra em crise religiosa, passa por momentos de revolta e inquietude na alma, entretanto, não se deixou vencer e retomou a oração silenciosa que por sua vez, adquiriu cada vez mais importância principalmente em relação às experiências místicas.

A partir daí, Teresa acredita na total e profunda conversão. Sente-se totalmente dominada por uma sensação da presença de Deus em seu interior. Segundo Teresa, não é possível exprimir em conceitos claros o que seja um êxtase, conforme sua própria afirmação: “Num instante, a mente aprende tantas coisas que, se a imaginação e a inteligência gastassem anos em enumerá-las, não poderiam recordar uma milésima parte delas”. (ALLEMAN, 1989, p.21).

Teresa considerava o arrebatamento místico[1] como algo maravilhoso e misterioso, impossível de compreender. Todas essas manifestações provocavam a admiração das freiras, visto que não sabiam explicar como alguém podia pairar no ar, durante muito tempo, ou seja, Teresa levitava. O acontecimento era intenso e incontrolável e, às vezes, ocorria na presença de outras pessoas, o que a incomodava.

Teresa não compreendia o porquê as visões aconteciam, até porque acreditava que era indigna de ser agraciada com este dom divino, portanto, percebeu que Deus se apresenta quando e como Ele quer. Pois, não depende de nós e sim, exclusivamente dele, que pode nos dar o dom e tirar quando quiser. Além disso, quando se concentra em algo privado, automaticamente se perde a visão de Cristo (D’Ávila, 2003, p. 85).

Teresa alcançou o ponto máximo de sua experiência religiosa mística, enfrentando, inclusive as adversidades em relação aos membros da Igreja e àqueles que detinham poder naquela época.  Vivia, pois, de modo a demonstrar que era perfeitamente possível a conciliação de uma vida dedicada à oração e meditação a uma vida eclesiástica.

Pode-se dizer que Teresa interiorizou a presença de Cristo por meio da oração. Com isso, consegue transformar a monotonia da vida conventual, ao mesmo tempo em que conquistava corações pelo seu carisma e diplomacia. Outro aspecto que merece destaque em relação à vida mística de Teresa, trata-se de sua incansável rotina de oração e meditação, o que ressalta a tese de que uma experiência religiosa pautada em princípios místicos exige intensa dedicação e provoca cansaço por parte daqueles que a praticam. Isto pode ser notado em uma passagem da autobiografia de Teresa:

A vida cristã é busca, aprofundamento, crescimento, descoberta, uma aventura extraordinária, em que não há pausa, não há descanso. Quando nos entregamos a um trabalho espiritual, sentimos um cansaço maior do que qualquer outro trabalho. É um esforço incrível que se faz no aprofundamento do divino. É um esforço não apenas físico, mas principalmente espiritual.  (ALLEMAN, 1989, p.26).

O processo que levou à beatificação de Teresa D’Ávila iniciou no século XVI, com sua morte ocorrida aos 67 anos de idade no dia 4 de outubro de 1582 após nove horas em coma. A Igreja reconhece a importância que Teresa teve na vida cristã pelos seus escritos, sua dedicação, seus ensinamentos que objetivavam a santificação das pessoas através da oração e contemplação.

Em 1614, 32 anos depois da morte é beatificada, com o título de Santa Teresa de Jesus. Antes do processo de canonização, Santa Teresa de Jesus já era considerada doutora mística por excelência com a máxima autoridade em matéria de vida espiritual. Em 1923, o procurador da Ordem dos Carmelitas descalços solicitou ao papa Pio XI a declaração de Santa Teresa de Jesus como doutora da Igreja, o que foi negado pelo papa por se tratar de mulher, o que não era permitido devido à mentalidade da época. (ALLEMAN, 1989, p.26).

Mas só em 1970, 398 anos após a sua morte, depois de uma extensa reflexão sobre seu magistério e através de seus livros, Teresa é reconhecida historicamente como doutora dos doutores, “destaca-se os elogios feitos por papas, sábios e santos, e assim, Santa Teresa de Jesus, é a primeira mulher a receber do papa Paulo VI na Basílica de São Pedro em Roma, o título de Doutora da Igreja”. (ALLEMAN, 1989, p.54).

Assim, para fins de contextualização, foi enfatizada aqui a trajetória da vida religiosa e mística de Teresa D’Ávila bem como seu processo de beatificação para ressaltar a relevância dos fenômenos místicos por meio de histórias de vida de personalidades históricas no cenário da Igreja.

[1]  Arrebatamento místico representa a saída de si, um mistério, que nós não podemos entender.

Paz e Luz!

Joaquina Donato

Referências:

JESUS, Teresa de. Livro da Vida. Disponível em: <http://www.documentacatholicaomnia.eu/03d/1515-1582,_Teresa_d%27Avila,_Livro_Da_Vida,_PT.pdf>. Acesso em: 24 . set 2017

O. CARM, Frei Jerônimo Alleman. A evolução de sua vida espiritual. In Teresa de Jesus: Filha da Igreja Filha do Carmelo. 1ª Ed. São Paulo: Instituto de Espiritualidade Tito Brandsma, 1989.

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Meu nome é Joaquina Donato, nasci em 1963, sou sensitiva e me considero mística por natureza, pois aprendi desde muito cedo a conviver com o mistério.