Como teóloga, acredito ser lamentável que muitas igrejas (não somente a Igreja Católica) distorçam completamente os ensinamentos de Jesus e incitem cotidianamente um viés comercial em suas atividades. Sabemos que Jesus abominava quaisquer atos comercias dentro da Igreja conforme a seguinte passagem bíblica: “… e disse aos vendedores de pombas: Tirai tudo isso daqui e não façais da casa de meu Pai uma casa de negócios”. (João 2,16)
Interessante mencionar um fato ocorrido comigo há alguns meses em que participei de um Congresso em um Santuário renomado aqui em Curitiba, confesso que fiquei indignada com tamanha injustiça e falta de respeito para com os congressistas, passamos por um tamanho constrangimento.
Havia uma loja que pertence ao Santuário onde são vendidos produtos religiosos, como velas, lembrancinhas etc. Precisei comprar uma vela para a procissão das luzes. Mas, para minha surpresa, havia seguranças na entrada da loja e quem quisesse entrar teria que lacrar a bolsa, enquanto outro cidadão ficava próximo ao Caixa com uma tesoura para liberar o lacre somente na hora de fazermos o pagamento. Como podemos perceber, havia uma enorme preocupação dos organizadores do evento em evitar que nós congressistas pudéssemos furtar algum objeto no interior da loja.
Agora eu pergunto: Será que as pessoas (fiéis humildes de boa-fé que participam todo ano do evento vindo de vários estados brasileiros) que se prepararam o ano inteiro economizando cada centavo para bancar a viagem e participar do Congresso (que a propósito não era barato) em busca de conforto espiritual mereciam passar por um constrangimento desses?
No dia 19 de março de 2018, fomos surpreendidos com a notícia da Operação Caifás realizada pelo Ministério Público de Goiás que culminou com a prisão do bispo da cidade de Formosa Dom José Ronaldo Ribeiro, o juiz eclesiástico Tiago Wenceslau e demais sacerdotes, acusados de dar um desfalque de mais de R$ 2 milhões nos cofres da Igreja Católica. O dinheiro desviado das paróquias comandadas pelo bispo José Ronaldo Ribeiro provinha de arrecadação de dízimos, doações, taxas de batismo, casamentos e festas promovida pelos fiéis.
Na verdade, a Igreja não quer ser furtada e roubada, todavia não mede esforços para suprimir as doações dos fiéis em próprio benefício, como podemos verificar com a recente prisão desse grupo formado por dirigentes da Igreja. É lastimável conviver com tanta incoerência.
Como se já não bastasse a grande desmoralização da Igreja por parte de padres pedófilos, caso que tem sido uma das preocupações do Papa Francisco que luta em busca de solução para o problema, pois além da vergonha que isso provoca, causa traumas e uma grande perda de fiéis para a Igreja católica, torna-se ainda mais revoltante ter que aceitar que a corrupção dentro da Igreja Católica venha por meio daqueles que deveriam ser exemplo de santidade, mas que se tornaram tema de revolta e indignação.
Infelizmente, não tem sido novidade no Brasil a frequência de operações que desvendam inúmeros escândalos de corrupção em proporções inimagináveis. E aqui não nos cabe discutir fatores históricos da corrupção em todos setores da sociedade brasileira que nos remetem à incredulidade crescente em instituições políticas, econômicas e jurídicas. Mas, quando nos deparamos com esquemas de corrupção inseridos em uma instituição tradicional como a Igreja Católica, não há de se surpreender de como ficamos atônitos com a conduta de autoridades eclesiais que desmoralizam os princípios cristãos apregoados pela Igreja diariamente.
O fato é que o povo cansou de ser enganado e quer justiça. A Igreja que Jesus deseja tem que ser limpa e transparente, chega de tanta impunidade e acobertamento das sujeiras cometidas por aqueles que se dizem homens de Deus e donos da verdade. Temos que dar um basta na corrupção dentro da Igreja, temos que expulsar os mercadores do templo conforme as escrituras: “A seguir, Jesus entrou no Templo e expulsou todos os que vendiam e compravam no Templo; derrubou a mesa dos cambistas e os assentos dos vendedores de pombas. E lhes disse: “Está escrito: Minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, fazeis dela uma caverna de bandidos!”. (Mateus 21,12-13)
Bem, o que está acontecendo com o desfecho desse caso em Goiás é traumatizante, com isso a Igreja perde cada vez mais a confiança dos fiéis. Mesmo assim, como católica não vou deixar de contribuir com o Dízimo, pois além de ser bíblico é um dever de todo cristão, mas é bom ficarmos de olhos bem abertos para ver se o dinheiro arrecadado está sendo utilizado de maneira justa.
Penso que nossa fé em Deus deva ultrapassar quaisquer ressalvas quanto à Igreja Católica como instituição, pois sabemos que os ensinamentos de Jesus superam todas as condutas desviantes dos clérigos participantes de uma poderosa estrutura hierárquica da Igreja.
De qualquer forma, como teóloga, creio ser importante expor aqui minha indignação com os recentes fatos mencionados de corrupção dentro da Igreja Católica, pois acredito que calar-se diante de qualquer tipo de injustiça é o mesmo que acobertar e fazer parte do esquema.
Convido aos leitores a refletir sobre isso!
Paz e Luz!
Joaquina Donato